sexta-feira, agosto 12, 2005

Desculpem, mas ontem fiquei mesmo mal. Ainda pensava nisso a caminho de casa.
O post que li foi no blog da Alda, "ascenção de um anjo". Com 9 meses...
Talvez por ter acabado há pouco de ler este livro, não sei. Uma história muito diferente da minha mas onde, aqui e ali, encontrei pontos em comum.
Costumava participar no site da Artémis e já há muito que não passo por lá porque senti que me estava a fazer mal. Sinto-me profundamente egoísta ao proferir estas palavras, porque era exactamente agora que eu deveria andar por lá a dar força e ânimo àquelas meninas, porque sei o que sentem e sei o quanto me valeu na altura encontrar na net pessoas que percebiam o que eu estava a sentir. Por outro lado ainda não consigo pensar nisso sem mágoa, sem me vir à tona aquela sensação de vazio.
Tinha 10 semanas quando o coração do nosso bebé parou de bater. Parecia impossível que na 6ª feira tivesse ouvido o seu coração e na 2ª seguinte apenas o silêncio. Tenho imagens gravadas na minha cabeça como se tivesse acontecido ontem.
Chamem-me cobarde mas acho que só podemos ajudar quando nos sentimos livres e à vontade para o fazer. Não o quero fazer por achar que é minha obrigação fazê-lo. Por isso admiro tanto a Manuela, pela força, coragem e determinação com que leva o projecto por diante.

"O bebé estava tão vivo no ventre dela, nos nossos pensamentos, nos nossos planos de futuro. (...)
Mas ninguém se lembra do nosso bebé. Nunca chegou a existir para os outros, só existiu na minha barriga e na minha cabeça. (...) Não é fácil partilhar a dor provocada pela perda de um filho que, "na realidade", nunca chegou a existir, e aqueles que não viveram a situação na sua própria carne têm dificuldade em entendê-la."
Quando a gravidez não chega - Judith Uyterlinde

Hoje sou muito feliz. Tenho a minha filha comigo.
Mas não esqueci, não consigo.